Passou-se uma hora, depois outra. Às 11, a batida compassada do relógio da igreja parecia soar como o naufrágio de nossas esperanças. Lestrade e Mycroft agitavam-se nos seus assentos e olhavam repetidamente para seus relógios. Holmes estava sentado quieto e calmo, as pálpebras semicerradas, mas com todos os sentidos alertas. Ao escutar um barulho, ergueu a cabeça.
– Ele vem vindo – murmurou.
Ouvimos passos furtivos do lado de fora, um arrastar de pés e depois duas batidas secas com a aldrava. Holmes se levantou, indicando-nos com um gesto que deveríamos continuar sentados. A iluminação a gás do vestíbulo nada mais era do que um fiozinho de luz. Ele abriu a porta da rua, e quando uma figura negra passou rapidamente por ele, Holmes fechou e trancou a porta.
– Por aqui! – nós o ouvimos dizer, e um instante depois o homem apareceu diante de nós. Holmes o havia seguido de perto, e quando o visitante se virou para escapar, com um grito de medo e espanto, Holmes o agarrou pelo pescoço e o atirou no chão do cômodo. Antes que o visitante tivesse tempo de recuperar o equilíbrio, Holmes trancou a porta e ficou encostado nela. O homem olhou em volta, vacilante, e caiu desmaiado no chão. Com a queda, seu chapéu de abas largas caiu, o cachecol deslizou deixando seu rosto à mostra, e vimos as feições suaves e delicadas, a barba clara do coronel Valentine Walter.
Holmes deu um assobio de surpresa:
– Desta vez você pode me descrever como um asno, Watson – ele disse. – Não era este o pássaro que eu esperava encontrar.
– Quem é ele? – perguntou Mycroft, ansioso.
– O irmão mais novo do falecido sir James Walter, chefe do departamento de submarinos. Sim, sim, estou vendo a seqüência dos acontecimentos agora. Bem, o homem está voltando a si. Acho melhor deixarem o interrogatório a meu cargo.
Tínhamos levado o corpo desmaiado para um sofá. O prisioneiro, recobrando os sentidos, sentou-se, olhou em volta com uma expressão apavorada e passou as mãos na testa, como alguém que não consegue acreditar no que vê.
– O que significa isto? – perguntou. – Vim aqui visitar o sr. Oberstein...
– Já sabemos de tudo, coronel Walter – disse Holmes. – Como um cavalheiro inglês pôde fazer isso é coisa que está além da minha compreensão. Mas toda a sua correspondência e seu relacionamento com Oberstein são de nosso conhecimento, assim como as circunstâncias ligadas à morte do jovem Cadogan West. Gostaria de aconselhá-lo a tentar diminuir sua pena arrependendo-se e confessando tudo, já que há alguns detalhes que só podemos saber por seu intermédio.
O homem gemeu e afundou a cabeça nas mãos. Esperamos, mas ele continuou em silêncio.
– Eu lhe asseguro – continuou Holmes – que conhecemos todos os fatos principais. Sabemos que o senhor precisava de dinheiro, que fez cópias das chaves de seu irmão e que se correspondia com Oberstein, que respondia às suas cartas por meio de anúncios classificados no Daily Telegraph. Sabemos que se dirigiu ao escritório de Woolwich na noite de segunda-feira, que foi visto e seguido por West que, possivelmente, tinha algum motivo para desconfiar do senhor. Ele viu seu roubo mas não pôde dar o alarme, já que seria possível que estivesse apenas pegando os documentos para levar para seu irmão em Londres. Deixando de lado seus problemas pessoais, como bom cidadão que era, ele o seguiu de perto, na neblina, e ficou nos seus calcanhares até chegarem a esta mesma casa. Aí ele interferiu e foi então, coronel Walter, que o senhor acrescentou à sua traição o crime mais terrível de assassinato.
– Eu não o matei! Eu não o matei! Juro, diante de Deus, que eu não o matei! – gritou nosso desprezível prisioneiro.
– Diga-nos, então, como Cadogan West morreu antes de vocês o atirarem no teto de um trem.
– Sim, direi. Juro-lhes que direi. Eu fiz o que o senhor contou, confesso-o. Foi exatamente como o senhor falou. Eu tinha de pagar uma dívida na Bolsa de Valores. Precisava muito de dinheiro, Oberstein me ofereceu 5 mil libras. Foi para salvar-me da ruína que agi. Mas, quanto ao assassinato, sou tão inocente quanto o senhor.
– O que aconteceu, então?