ordenado que a ponte levadiça fosse suspensa toda noite porque era um antigo costume da velha casa, e ele gostava de conservar os costumes antigos. O sr. Douglas raramente ia a Londres ou saía do vilarejo, mas no dia anterior ao crime estivera fazendo compras em Tunbridge Wells. Ele, Ames, havia observado certa inquietação e nervosismo por parte do sr. Douglas naquele dia, pois ele parecia impaciente e irritável, o que não era seu estado normal. Ele não havia ido se deitar naquela noite, mas estava na copa, que fica na parte de trás da casa, guardando as pratarias, quando ouviu o sino tocar de modo insistente. Não ouviu disparos, mas dificilmente ouviria, já que a copa e a cozinha ficam bem no final da casa, e havia muitas portas fechadas e um longo corredor antes de chegar lá. A governanta saíra do seu quarto devido ao toque insistente do sino. Eles foram até a frente da casa juntos. Quando chegaram ao pé da escada, viram a sra. Douglas descendo. Não, ela não estava correndo – não lhe pareceu que estivesse especialmente agitada. Quando ela chegou ao final da escada, o sr. Barker saiu correndo do escritório e pediu a ela que subisse novamente.
– Pelo amor de Deus, volte para o seu quarto! – ele gritou. – O coitado do Jack está morto. Não há nada a fazer. Pelo amor de Deus, suba!
Depois de ser convencida, a sra. Douglas subiu. Ela não gritou. Também não disse nada. A sra. Allen, a governanta, levou-a para cima e ficou com ela no quarto. Ames e o sr. Barker voltaram ao escritório, onde encontraram tudo exatamente como a polícia viu. A vela não estava acesa naquela hora, mas a lâmpada estava ligada. Olharam pela janela, mas a noite estava muito escura e não puderam ver nem ouvir nada. Correram então para o hall, onde Ames acionou o maquinismo que baixava a ponte. O sr. Barker então correu para chamar a polícia.
Esse, em linhas gerais, foi o depoimento do mordomo.
O relato da sra. Allen, a governanta, foi, de certo modo, uma confirmação do que dissera seu colega. O quarto da governanta ficava mais perto da frente da casa do que a copa onde Ames estava trabalhando. Ela estava se preparando para deitar quando o toque da campainha despertou sua atenção. Sua audição era um pouco deficiente. Talvez por isso não tivesse ouvido o disparo, mas, de qualquer modo, o escritório ficava um pouco distante. Ela ouviu um som que imaginou ser o de uma porta batendo. Isso foi bem antes – pelo menos meia hora antes de o sino tocar. Quando o sr. Ames correu para a parte da frente da casa, ela foi com ele. Viu o sr. Barker, muito pálido e agitado, saindo do escritório. Ele interceptou a sra. Douglas, que estava descendo a escada. Ele lhe pediu que subisse novamente e ela disse alguma coisa, mas que não conseguiu ouvir.
– Leve-a para cima. Fique com ela! – ele dissera à sra. Allen.
Ela então levou-a para o quarto e procurou tranqüilizá-la. A sra. Douglas estava muito agitada, tremendo todo o corpo, mas não tentou descer novamente. Ela apenas se sentou diante da lareira do quarto, vestida com o roupão, e afundou a cabeça nas mãos. A sra. Allen ficou com ela a maior parte da noite. Quanto aos outros criados, todos já tinham ido dormir e só foram acordados pouco antes de a polícia chegar. Eles estavam dormindo na outra extremidade da casa e com certeza não puderam ouvir nada.
Essa foi a governanta – que não acrescentou nada no interrogatório, a não ser lamentações e manifestações de surpresa.
O sr. Barker falou depois da sra. Allen como testemunha. Quanto às ocorrências da noite anterior, ele tinha muito pouco a acrescentar ao que já dissera à polícia. Pessoalmente, ele estava convencido de que o assassino fugira pela janela. A mancha de sangue era conclusiva, na sua opinião, quanto a isso. Além do mais, já que a ponte estava suspensa, não havia outro modo de fugir. Não sabia explicar o que acontecera ao assassino ou por que não levara a bicicleta, se é que realmente era dele. Com toda a certeza não poderia ter-se afogado no fosso, que em nenhum ponto tinha mais de 1 metro de profundidade.