A casa ficou sem dono durante alguns anos e estava ameaçada de se transformar numa pitoresca decadência quando os Douglas ficaram com ela. Essa família era formada apenas por duas pessoas: John Douglas e sua esposa. Douglas era um homem notável, tanto pelo caráter como pelo físico; sua idade deveria estar em torno dos 50, com o rosto de traços firmes, um bigode grisalho, os olhos cinzentos com uma expressão particularmente triste e um corpo musculoso e forte que não perdera nada dos tempos de juventude. Ele era alegre e gentil com todos, mas um tanto brusco em seus modos, dando a impressão de que fora criado numa camada social um pouco inferior à da sociedade de Sussex. Contudo, embora visto com alguma reserva e curiosidade por seus vizinhos mais refinados, em pouco tempo adquiriu uma grande popularidade entre os habitantes do lugar, contribuindo de modo generoso para qualquer campanha e comparecendo aos concertos populares e a outros eventos, onde, sendo um notável tenor, estava sempre disposto a cantar alguma coisa. Ele parecia ter muito dinheiro, que, segundo se dizia, ganhara nos garimpos de ouro da Califórnia, e ficava patente, pelo que ele e a mulher diziam, que passara uma parte da vida na América. A boa impressão produzida por sua generosidade e por seus modos democráticos aumentou pela forma de total indiferença ao perigo. Embora fraco como cavaleiro, comparecia a todos os rodeios e levava os tombos mais divertidos com sua determinação de conseguir o melhor de si. Quando o vicariato pegou fogo, ele se distinguiu também pelo modo destemido como entrou no prédio várias vezes para salvar alguns pertences, depois que os bombeiros locais já tinham dado o caso por encerrado, qualificando-o de impossível. Assim, John Douglas, da Casa Senhorial, em cinco anos tinha uma boa reputação em Birlstone.
Sua esposa também era popular entre as pessoas com as quais se dava, embora, segundo o costume inglês, as visitas a estrangeiros que chegassem sem apresentações fossem raras. Isso não importava muito a ela, já que escolhera aquele vilarejo por vontade própria e estava muito absorvida, segundo as aparências, no marido e na vida doméstica. Sabia-se que ela era uma dama inglesa que conhecera o sr. Douglas em Londres, que era viúvo naquele tempo. Ela era uma mulher linda, alta, morena e elegante, cerca de 20 anos mais jovem que o marido; uma diferença que não parecia estragar a alegria da vida conjugal. Mas as pessoas que os conheciam melhor observaram algumas vezes que a confiança entre ambos não parecia completa, já que a esposa era muito reticente sobre o passado do marido ou, o que era mais provável, não o conhecia a fundo. Algumas pessoas mais observadoras já haviam percebido e comentado que a sra. Douglas tinha alguns sinais de doença nervosa e que demonstrava uma grande inquietação se o marido demorasse a voltar para casa. Num lugarejo calmo, onde qualquer mexerico é bem-vindo, essa fraqueza da senhora da Casa Senhorial não passou despercebida e tornou-se mais viva ainda na memória de todos quando ocorreram certos fatos que deram a esse comportamento um significado especial.