- Não importa - respondi. - Tenho todos os fatos registrados em meu diário e o público irá conhecê-los. Até lá, você pode desfrutar a consciência do sucesso, como aquele avarento romano: Populus me sibilat, at mihi plaudo Ipse domi simul ac nummos contemplar in arca'.{15}
*
FIM
{1} (Thomas Carlyle (1795-1881). Escritor inglês, autor de numerosa obra no campo da história e do pensamento social. (N. do T.)
{2} (Pequenas peças melodiosas, sentimentais e espirituosas que compõem as várías coleçôes dos Lieder uhne Worte (Canções sem palavras), de Mendelssohn (compositor e regente alemão, 1809-1847). (N. do T.)
{3} (Matemático grego, viveu na primeira metade do século III a.C., autor de Elementos, obra dividida em treze livros, um dos mais notáveis compêndios de Matemática. (N. do T.)
{4} (Personagem criado pelo poeta, crítico e ficcionista americano Edgar Allan Poe (1809-1849). Dupin é considerado o primeiro detetive do romance policial. (N. do T.)
{5} (Émile Gaboriau (1835-1873), ficcionista francês, autor de narrativas policiais que celebrizaram seu personagem, o detetive Lecoq. (N. do T.)
{6} (Coleção de contos picarescos de Boccaccio (1313-1375), escritor italiano. (N. do T.)
{7} (Moeda inglesa de ouro equivalente a dez xelins. (N. do T.)
{8} (Charles Robert Darwin (1809-1882), naturalista britânico cuja teoria da evolução através da seleção natural causou uma revolução na ciência biológica. (N. do T.)
{9} (Um tolo sempre encontra alguém ainda mais tolo que o admira. (N. do T.)
{10} (Em francês, no original. Tem o sentido de exagero, excessivo. (N. do T.)
{11} (Tribos aborígenes dos Estados Unidos da América. (N. do T.)
{12} (Conforme original. (N. do T.)
{13} (Oficiais religiosos que ocupam alto cargo na hierarquia da Igreja Mórmon. (N. do T.)
{14} (Herber C. Kemball, em um de seus sermões, empregou esse afetuoso epíteto para referir-se a suas cem esposas. (N. do A.)
{15} (O povo me vaia, mas eu me aplaudo, quando contemplo o dinheiro em minha arca. (N. do T.)
O Sinal dos Quatro
Capítulo 1
a ciência da dedução
Sherlock Holmes pegou o frasco de cocaína no consolo da lareira e tirou a seringa de injeções hipodérmicas do estojo de marroquim. Com os dedos longos, brancos e nervosos ajustou a agulha delicada e arregaçou a manga esquerda da camisa. Ficou pensativo por algum tempo, olhando para as marcas e cicatrizes no antebraço, causadas pelas contínuas picadas. Finalmente, introduziu a ponta fina, apertou o êmbolo e recostou-se na poltrona, com um suspiro prolongado de satisfação.
Três vezes por dia, durante muitos meses, eu tinha assistido a esta operação, mas não conseguia me acostumar a ela. Pelo contrário, cada dia eu ficava mais irritado com esse espetáculo, e todas as noites a minha consciência me acusava de covarde por não protestar.
Mil vezes eu dissera a mim mesmo que lavava as mãos neste caso. Havia no ar indolente do meu amigo tamanha frieza, que ninguém ousaria permitir-se a menor liberdade. As suas grandes qualidades, o seu jeito superior e o conhecimento que eu tinha das suas faculdades extraordinárias me intimidavam e me faziam recuar.
Mesmo assim, naquela tarde, fosse por causa do Beaune que eu tinha tomado no almoço ou por uma irritação maior diante do seu desembaraço, senti de repente que devia protestar.