Portanto, aí está esclarecido um dos nossos pequenos mistérios. É uma coisa que chegou ao final em algum lugar deste pântano no qual estamos nos debatendo. Sabemos agora por que Stapleton encarava com hostilidade o pretendente à mão da sua irmã, mesmo quando esse pretendente era tão aceitável como sir Henry. E agora passo para outro fio que puxei da meada embaraçada, o mistério dos soluços durante a noite, do rosto manchado de lágrimas da sra. Barrymore, da ida secreta do mordomo até a janela de treliça a oeste. Felicite-me, meu caro Holmes, e diga-me que não o desapontei como agente, que você não se arrepende da confiança que demonstrou ter em mim quando me mandou para cá. Todas estas coisas foram totalmente esclarecidas com o trabalho de uma noite.
Eu disse “com o trabalho de uma noite” mas, na verdade, foi com o trabalho de duas noites, porque na primeira não conseguimos nada. Eu fiquei sentado com sir Henry em seu quarto até quase três horas, mas não ouvimos nenhum tipo de ruído, exceto do carrilhão no andar de cima. Foi uma vigília muito melancólica, e terminou com cada um adormecendo em sua cadeira. Felizmente não desanimamos, e resolvemos tentar outra vez. Na noite seguinte diminuímos a luz da lâmpada e ficamos sentados fumando cigarros, sem fazer o menor ruído. Foi incrível como as horas se arrastaram lentamente, mas fomos ajudados pelo mesmo tipo de interesse paciente que o caçador deve sentir ao vigiar a armadilha na qual espera que a caça possa cair. Uma badalada, e duas, e já estávamos quase desistindo pela segunda vez quando num instante nós dois nos endireitamos em nossas cadeiras, com todos os nossos sentidos cansados aguçados mais uma vez. Tínhamos ouvido o estalido de um passo no corredor.
Ouvimos quando ele passou por nós muito furtivamente até desaparecer na distância. Depois o baronete abriu sua porta devagar e partimos em perseguição. O nosso homem já havia contornado a galeria, e o corredor estava todo escuro. Seguimos em frente com cuidado até alcançarmos outra ala. Chegamos bem a tempo de ver de relance um vulto alto, de barba preta, com os ombros curvos, enquanto ele seguia pé ante pé pelo corredor. Depois ele passou pela mesma porta de antes, e a luz da vela o emoldurou na escuridão e lançou um único raio amarelo através do corredor sombrio. Seguimos furtivamente na direção dele, experimentando cada tábua do assoalho antes de nos atrevermos a pôr todo o nosso peso sobre ela. Havíamos tomado a precaução de tirar as botas, mas, mesmo assim, as velhas tábuas gemeram e estalaram sob os nossos passos. Algumas vezes parecia impossível que ele deixasse de ouvir a nossa aproximação. Mas, felizmente, o homem é bastante surdo e estava inteiramente concentrado no que fazia. Quando finalmente chegamos à porta e olhamos para dentro, vimos que ele estava agachado junto à janela, com a vela na mão, o rosto branco e atento comprimido contra a vidraça, exatamente como eu o vira duas noites antes.
Não tínhamos combinado nenhum plano de ação, mas o baronete é um homem para quem a maneira mais direta é sempre a mais natural. Ele entrou no quarto e, ao fazer isso, Barrymore deu um salto, com um silvo agudo da respiração, e ficou de pé, lívido e tremendo diante de nós. Seus olhos escuros, brilhando na máscara branca do seu rosto, estavam cheios de horror e espanto ao olharem fixamente de sir Henry para mim.
– O que você está fazendo aqui, Barrymore?
– Nada, senhor. – Sua agitação era tão grande que ele mal podia falar, e as sombras saltavam para cima e para baixo com o tremor da sua vela. – Era a janela, senhor. Eu revisto à noite para ver se todas as janelas estão bem fechadas.
– No segundo andar?
– Sim, senhor, todas as janelas.
– Olhe aqui, Barrymore – disse sir Henry com severidade. – Nós decidimos arrancar a verdade de você, de modo que evitará problemas para você se contar o mais rápido possível. Vamos, agora! Nada de mentiras! O que você estava fazendo nessa janela?
O sujeito olhou para nós com uma expressão desamparada e torceu as mãos como alguém que está no auge da dúvida e da aflição.
– Eu não estava fazendo nada de errado, senhor. Estava segurando uma vela perto da janela.
– E por que você estava segurando uma vela junto à janela?
– Não me pergunte, sir Henry, não me pergunte! Dou-lhe minha palavra, senhor, que o segredo não me pertence e que não posso contá-lo. Se ele não dissesse respeito a ninguém, só a mim mesmo, eu não tentaria escondê-lo do senhor.
Uma idéia súbita ocorreu-me, e tirei a vela da mão trêmula do mordomo.
– Ele devia estar segurando-a como um sinal – disse eu. – Vamos ver se há alguma resposta. – Ergui-a como ele tinha feito e fiquei olhando para a escuridão da noite lá fora. Pude perceber vagamente a massa negra das árvores e a extensão mais clara do pântano, porque a lua estava atrás das nuvens. E então dei um grito de regozijo, porque um ponto minúsculo de luz amarela atravessou de repente o véu escuro, e brilhava firmemente no centro do quadrado negro emoldurado pela janela.