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— Ah, meu amigo: essas s~ao j'a as desigualdades naturais, e n~ao as sociais… Com essas 'e que o anarquismo n~ao tem nada. O grau de intelig^encia ou de vontade de um individuo 'e com ele e com a Natureza; as pr'oprias ficc~oes sociais n~ao p~oem para a'i nem prego nem estopa. H'a qualidades naturais, como eu j'a lhe disse, que se pode presumir que sejam pervertidas pela longa perman'encia da humanidade entre ficc~oes sociais; mas a pervers'ao n~ao est'a no grau da qualidade, que 'e absolutamente dado pela Natureza, mas na aplicac~ao da qualidade. Ora uma quest~ao de estupidez ou de falta de vontade n~ao tem que ver com a aplicac~ao dessas qualidades, mas s'o com o grau d'elas. Por isso lhe digo: essas s~ao j'a absolutamente as desigualdades naturais, e sobre essas ningu'em tem poder nenhum, nem h'a modificac~ao social que as modifique, como n~ao me pode tornar a mim alto ou a voc^e baixo…

«A n~ao ser… A n~ao ser que, no caso desses tipos, a pervers~ao heredit'aria das qualidades naturais v'a t~ao longe que atinja o pr'oprio fundo do temperamento… Sim, que um tipo nasca para escravo, nasca naturalmente escravo, e portanto incapaz de qualquer esforgo no sentido de se libertar… Mas nesse caso…, nesse caso…, que tem ele que ver com a sociedade livre, ou com a liberdade?… Se um homem nasceu para escravo, a liberdade, sendo contr'aria `a sua 'indole, ser'a para ele uma tirania.

Houve uma peque~na pausa. De repente ri alto.

— Realmente — disse eu —, voc^e 'e anarquista. Em todo o caso, d'a vontade de rir, mesmo depois de o ter ouvido, comparar o que voc^e 'e com que s~ao os anarquistas que pr’a'i h'a…

— Meu amigo, eu j'a lho disse, j'a lho provei, e agora repito-lho… A diferencia 'e s'o esta: eles s~ao anarquistas s'o te'oricos, eu sou te'orico e pr'atico; eles s~ao anarquistas m'isticos, e eu cient'ifico; eles s~ao anarquistas que se agacham, eu sou um anarquista que combate e liberta… Em uma palavra: eles s~ao pseudo-anarquistas, e eu sou anarquista.

E levant'amo-nos da mesa.

Lisboa, Janeiro de 1922.

Cr'onica decorativa I

A circunst^ancia humana de eu ter amigos fez com que ontem me acontecesse vir a conhecer o Dr. Boro, professor da Universidade de T'oquio. Surpreendeu-me a realidade quase evidente da sua presenga. Nunca supus que um professor da Universidade de T'oquio fosse uma criatura, ou sequer coisa, real.

O Dr. Boro — sinto que me custa doutor'a-lo — pareceu-me escandalosamente humano e parecido com gente. Vibrou um golpe, que me esforco por desviar de decisivo, ~nas minhas ideias sobre o que 'e o Jap~ao. Trajava `a europeia, e, como qualquer mero professor existente na Universidade de Lisboa,tinha o casaco por escovar. Ainda assim, por delicadeza, dei-me por ciente, durante duas horas, da sua presenca pr'oxima.

Preciso explicar que as minhas ideias do Jap~ao, da sua flora e da fauna, dos seus habitantes humanos e das v'arias modalidades de vida que lhes s~ao pr'oprias, derivam de um estudo demorado de v'arios bules e ch'avenas. Eu por isso sempre julguei que um japon^es ou uma japonesa tivesse apenas duas dimens~oes; e essa delicadeza para com o espaco deu-me uma afeic~ao doentia por aquele pa'is econ'omico de realidade. O professor Boro 'e s'olido, tem sombra — v'arias vezes fiz com que o meu olhar o verificasse — e al'em de falar e falar ingl'es, coloca ideias e noc~oes compreens'iveis dentro das suas palavras. A circunst^ancia de que as suas ideias n~ao comportam nem novidade nem relevo apenas o aproxima dos professores europeus, pavorosamente europeus, que conheco.

Al'em disto, o professor Boro tem movimento, deslocase, n~ao sei como, de um lado para o outro, o que, feito perante quem sempre teve o Jap~ao por uma nac~ao de quadro, parada e apenas real sobre transpar'encia de louca, 'e requintadamente ordin'ario e desiludidor.

Fal'amos de pol'itica internacional, da guerra europeia, e fizemos v'arias incurs~oes pelos v'arios fen'omenos liter'arios caracter'isticos da nossa 'epoca. A ignor^ancia que o professor Boro tinha de futurismo foi a 'unica benzina para a n'odoa da sua realidade moderna. Mas h'a algum professor de alguma Universidade da Europa que siga de perto os movimentos da arte contempor^anea?

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