– Ora, por que deveria duvidar de um homem poderoso como eu? Era inverno e eu era meio garoto, e estúpido como os garotos são. Avancei longe demais e meu cavalo morreu, e depois uma tempestade apanhou-me. Uma tempestade
– Se ela o alimentou, não pode tê-la matado.
– E não matei, mas vê se não espalha isso por aí. Tormund, Terror dos Gigantes, soa melhor do que Tormund, Bebê de Gigante, e esta é a verdade verdadeira.
– Então como foi que arranjou os outros nomes? – perguntou Jon. – Mance chamou-o de Soprador de Chifres, não foi? Rei-Hidromel do Solar Ruivo, Esposo de Ursas, Pai de Tropas? – era do sopro no chifre que queria realmente ouvir falar, mas não se atrevia a perguntar tão diretamente.
– Todos os corvos são assim tão curiosos? – perguntou Tormund. – Bom, aqui vai uma história para você. Foi em outro inverno, ainda mais frio do que aquele que passei dentro da giganta, e nevava de dia e de noite, flocos de neve do tamanho de sua cabeça, não estas coisinhas. Nevava tanto que a aldeia inteira estava meio enterrada. Eu estava em meu Solar Ruivo, só com um barril de hidromel para me fazer companhia e nada para fazer a não ser bebê-lo. Quanto mais bebia, mais pensava numa mulher que vivia ali perto, uma mulher boa e forte, com o maior par de tetas que você já viu. Tinha um gênio difícil, aquela, mas, oh, também sabia ser quente, e no meio do inverno um homem precisa de seu calor.
“Quanto mais bebia, mais pensava nela, e quanto mais pensava, mais duro ficava o meu membro, até que não aguentei mais. Idiota como era, enfiei-me em peles da cabeça aos pés, enrolei a cara numa volta de lã, e lá fui à procura dela. A neve caía com tanta força que me virou uma ou duas vezes, e o vento soprava através de mim e congelava meus ossos, mas finalmente cheguei em sua casa, todo enfaixado como estava.
“A mulher tinha um gênio terrível, e deu uma luta e tanto quando pus as mãos nela. Por pouco não conseguia levá-la para casa e tirá-la de dentro daquelas peles, mas quando fiz isso, oh, ela foi ainda mais quente do que eu me lembrava, e passamos um belo tempo juntos, e depois adormeci. Na manhã seguinte, quando acordei, a forte nevasca tinha parado e o sol brilhava, mas eu não estava em estado de aproveitá-lo. Estava todo ferido e rasgado, com metade de meu membro arrancado a dentadas, e bem ali no chão estava a pele de uma ursa. E não demorou muito tempo para que o povo livre começasse a contar histórias sobre um urso sem pelos visto na floresta, seguido pelo mais estranho par de filhotes que já se viu. Ha! – deu uma palmada numa coxa carnuda. – Gostaria de voltar a encontrá-la. Aquela ursa era boa na cama. Nunca mulher nenhuma me deu uma luta daquelas, nem filhos tão fortes.”
– O que faria se a encontrasse? – perguntou Jon, sorrindo. – Disse que ela arrancou seu membro com os dentes.
– Só metade. E metade de meu membro é duas vezes maior do que o de outro homem qualquer. – Tormund resfolegou. – E agora você... é verdade que cortam seus membros quando os levam para a Muralha?
– Não – disse Jon, afrontado.
– Eu acho que deve ser verdade. Se não, por que é que rejeita Ygritte? Ela quase não lhe daria luta, me parece. A moça quer você lá dentro, isso tá bem na cara.
Passava a maior parte dos dias na companhia de Ygritte, e a maior parte das noites também. Mance Rayder não se mostrara cego perante a desconfiança que o Camisa de Chocalho nutria pelo “corvo-que-veio”, por isso, depois de dar a Jon o novo manto de pele de ovelha, sugeriu que talvez preferisse acompanhar Tormund Terror dos Gigantes. Jon sentiu-se feliz por concordar, e no dia seguinte Ygritte e o Lança-Longa Ryk também tinham trocado o bando do Camisa de Chocalho pelo de Tormund.
– O povo livre acompanha quem quiser – a moça lhe disse –, e nós estamos de saco cheio do Saco de Ossos.