– Tem
Jon não tinha resposta para aquilo. Não era de admirar que os Sete Reinos considerassem o povo livre pouco acima dos animais.
Mas com Tormund e Lança-Longa seguiam outros tipos de selvagem; homens como o Camisa de Chocalho e o Chorão, que tão depressa abririam sua goela quanto escarrariam em você. Havia Harma Cabeça de Cão, uma mulher que mais parecia um barril atarracado, com lajes de carne branca no lugar das bochechas, que odiava cães e matava um a cada quinzena para arranjar uma cabeça nova para a sua insígnia; o Styr sem orelhas, Magnar de Thenn, que era considerado por seu povo mais deus do que homem; Varamyr Seis-Peles, um pequeno rato em forma de homem, cujo garanhão era um urso-das-neves branco e selvagem, que tinha quase quatro metros de altura quando ficava em pé nas patas traseiras. E onde quer que Varamyr e o urso fossem, três lobos e um gato-das-sombras seguiam-nos. Jon estivera em sua presença apenas uma vez, e uma vez fora o bastante; bastou ver o homem para se sentir irritado, ao mesmo tempo que o pelo no pescoço de Fantasma havia se eriçado quando o lobo avistou o urso e aquele grande gato preto e branco.
E havia gente ainda mais feroz do que Varamyr, vinda das regiões mais setentrionais da floresta assombrada, dos vales escondidos das Presas de Gelo e de lugares ainda mais estranhos: os homens da Costa Gelada, que seguiam em bigas feitas de ossos de morsa, puxadas por matilhas de cães selvagens; os terríveis clãs do rio de gelo, dos quais se dizia que se banqueteavam com carne humana; os habitantes das cavernas, com o rosto pintado de azul, roxo e verde. Jon contemplara com os próprios olhos os homens de Cornopé, que avançavam a trote, em coluna, sobre pés nus que tinham solas duras como couro fervido. Não tinha visto
Jon calculava que metade da tropa dos selvagens passara toda a vida sem ver a Muralha, nem que fosse de relance, e, entre esses, a maioria não sabia uma palavra do Idioma Comum. Não importava. Mance Rayder falava o Idioma Antigo, até cantava nele, dedilhando o seu alaúde e enchendo a noite com música estranha e selvagem.
Mance tinha passado anos reunindo aquela vasta e lenta tropa, falando aqui com uma mãe de clã e ali com um magnar, conquistando uma aldeia com palavras simpáticas, outra com uma canção e uma terceira com o gume da espada, fazendo a paz entre Harma Cabeça de Cão e o Senhor dos Ossos, entre os Cornopés e os Corredores da Noite, entre os homens-morsa da Costa Gelada e os clãs canibais dos grandes rios de gelo, fundindo uma centena de punhais diferentes numa única grande lança, apontada ao coração dos Sete Reinos. Não tinha coroa nem cetro, nem vestes de seda e veludo, mas para Jon estava claro que Mance Rayder
Jon tinha se juntado aos selvagens por ordem de Qhorin Meia-Mão.
– Cavalgue com eles, coma com eles, lute com eles – dissera-lhe o patrulheiro, na noite antes de morrer. – E