– Não é bom para suas esperanças de se tornarem Senhor Comandante, com certeza – disse Meistre Aemon. – Mas no fim das contas pode ser bom para a Patrulha da Noite. Não cabe a nós decidir. Dez dias não é um tempo excessivo. Certa vez, houve uma escolha que durou quase dois anos, umas setecentas votações. Os irmãos chegarão a uma decisão a seu tempo.
Mais tarde, sobre taças de vinho aguado na privacidade da cela de Pyp, a língua de Sam soltou-se e deu por si pensando em voz alta.
– Cotter Pyke e Sor Denys Mallister vêm perdendo terreno, mas entre eles ainda têm quase dois terços – disse a Pyp e a Grenn. – Qualquer um dos dois poderia ser um bom Senhor Comandante. Alguém tem de convencer um deles a se retirar e a apoiar o outro.
– Alguém? – disse Grenn em tom de dúvida. – Que alguém?
– Grenn é tão burro que acha que
– O Rei Stannis já é casado – objetou Grenn.
– O que vou fazer com ele, Sam? – suspirou Pyp.
– Cotter Pyke e Sor Denys não gostam muito um do outro – argumentou obstinadamente Grenn. – Discutem sobre
– Sim, mas só porque têm ideias diferentes sobre o que é melhor para a Patrulha – disse Sam. – Se nós explicássemos...
–
– E Sam, o Matador – disse Grenn. – Matou um Outro.
– Foi o
– Filho de um lorde, intendente do meistre e Sam, o Matador – meditou Pyp. –
– Poderia – disse Sam, soando tão pessimista quanto Edd Doloroso –, se não fosse covarde demais para encará-los.
JON
Jon rodeou Cetim lentamente, de espada na mão, obrigando-o a se virar.
– Levante o escudo – disse.
– É pesado demais – reclamou o rapaz de Vilavelha.
– Tem o peso que precisa ter para parar uma espada – disse Jon. – E agora levante-o. – Deu um passo para a frente, golpeando. Cetim ergueu o escudo a tempo de apanhar a espada na borda e brandiu a sua lâmina contra as costelas de Jon. – Boa – disse Jon, quando sentiu o impacto em seu escudo. – Isso foi bom. Mas tem de colocar o corpo no movimento. Ponha o seu peso no aço e conseguirá fazer mais estragos do que apenas com a força do braço. Vá, tente outra vez, ataque-me, mas mantenha o escudo levantado, senão faço sua cabeça ressoar como se fosse um sino...
Em vez disso, Cetim deu um passo para trás e levantou a viseira.
– Jon – disse, numa voz ansiosa.
Quando se virou, ela estava em pé atrás dele, rodeada de meia dúzia de homens da rainha.
– Senhora.
– O rei deseja falar com você, Jon Snow.
Jon espetou a espada de treino no solo.
– Talvez me possa ser permitido que troque de roupa? Não estou em estado digno de comparecer perante um rei.
– Esperaremos no topo da Muralha – disse Melisandre.
Pendurou a cota de malha e a armadura no arsenal, regressou à sua cela, livrou-se das roupas manchadas de suor e vestiu um conjunto limpo de vestes negras. Sabia que faria frio e ventaria na gaiola, e seria ainda mais frio e ventaria mais no topo do gelo, por isso escolheu um pesado manto com capuz. Por último recolheu a Garralonga e atou a espada bastarda às costas.
Melisandre esperava-o na base da Muralha. Mandara embora os homens da rainha.
– O que Sua Graça quer de mim? – perguntou-lhe quando entraram na gaiola.
– Tudo o que tiver para dar, Jon Snow. Ele é um rei.
Jon fechou a porta e puxou a corda do sino. O guincho começou a girar. Subiram. O dia estava luminoso e a Muralha chorava, com longos dedos de água escorrendo por sua superfície e cintilando ao sol. No apertado confinamento da gaiola de ferro, sentia-se vivamente consciente da presença da mulher vermelha.
– Não sente frio, senhora? – perguntou-lhe.
Ela riu.