Iria dar certo, prometeu a si mesmo pela centésima vez.
– Chett – disse Paul Pequeno enquanto avançavam penosamente por uma trilha pedregosa, aberta por animais entre árvores-sentinela e pinheiros marciais –, e o pássaro?
– De que merda de pássaro você está falando? – A última coisa de que precisava agora era de um cabeça oca perguntando de um pássaro.
– O corvo do Velho Urso – disse Paul Pequeno. – Se o matarmos, quem vai dar comida ao pássaro?
– Quem liga pra isso? Mate o pássaro também, se quiser.
– Não quero fazer mal a pássaro nenhum – disse o enorme homem. – Mas aquele é um pássaro que fala. E se ele contar a alguém o que fizemos?
Lark, o homem das Irmãs, soltou uma gargalhada.
– Paul Pequeno, cabeça-dura como a muralha de um castelo – caçoou.
– Fica quieto – disse Paul Pequeno, num tom que denotava perigo.
– Paul – disse Chett antes que o grandalhão ficasse zangado demais –, quando encontrarem o velho numa poça de sangue, com a garganta aberta, não vão precisar de um pássaro para lhes dizer que alguém o matou.
Paul Pequeno saboreou aquilo por um momento.
– É verdade – concordou. – Nesse caso, posso ficar com o pássaro? Gosto dele.
– É seu – disse Chett, só para que ele se calasse.
– Sempre podemos comê-lo, se ficarmos com fome – sugeriu Lark.
Paul Pequeno voltou a fechar o tempo.
– É melhor que não tente comer
Chett ouvia vozes vagueando por entre as árvores.
– Fechem a porra dessas bocas, os dois. Estamos quase no Punho.
Emergiram perto da vertente ocidental do monte e rodearam-no em direção ao sul, até o local onde o declive era mais suave. Perto do limite da floresta, uma dúzia de homens praticava tiro com arco. Tinham esculpido silhuetas nos troncos das árvores, e disparavam flechas contra elas.
– Olha – disse Lark. – Um porco com um arco.
E, logicamente, o arqueiro mais próximo deles era o próprio Sor Porquinho, o rapaz gordo que roubara o lugar de Chett junto ao Meistre Aemon. Bastava ver Samwell Tarly para se encher de raiva. Ser intendente do Meistre Aemon fora a melhor época de sua vida. O velho cego não era exigente e, de qualquer maneira, Clydas tratava da maior parte de seus desejos. Os deveres de Chett eram fáceis: manter a colônia limpa, acender uns fogos, buscar umas refeições... e Aemon não bateu nele uma única vez.
– Continuem – disse aos outros. – Quero ver isso. – Os cães estavam puxando, ansiosos por ir com os outros, até a comida que pensavam que os esperaria lá em cima. Chett chutou a cadela com a ponta da bota, e isso acalmou-os um pouco.
Observou, das árvores, o gordo lutando com um arco tão alto quanto ele, com seu rosto vermelho e em forma de lua contraído de concentração. No chão, à sua frente, estavam enfiadas três flechas. Tarly encaixou uma e retesou o arco, manteve-o assim por um longo momento enquanto tentava mirar, e soltou. A flecha desapareceu no meio do verde. Chett soltou uma ruidosa gargalhada, uma bufada de doce repugnância.
– Você nunca encontrará aquela, e quem vai arcar com a culpa sou eu – anunciou Edd Tollett, o severo escudeiro grisalho que todos chamavam de Edd Doloroso. – Nunca há nada que desapareça que não olhem para mim, desde aquela vez em que perdi meu cavalo. Como se tivesse podido evitá-lo. Ele era branco e estava nevando, o que esperavam?
– Aquela foi levada pelo vento – disse Grenn, outro amigo de Lorde Snow. – Tente manter o arco firme, Sam.