– Se esperarmos demais, essa oportunidade poderá ser perdida, e para sempre –Smallwood andava dizendo a quem quer que o quisesse ouvir.
Contra isso, Sor Ottyn Wythers disse:
– Somos o escudo que defende os reinos dos homens. Não se joga fora um escudo sem bons motivos.
A essa afirmação, Thoren Smallwood retrucou:
– Num duelo de espadas, a mais segura defesa de um homem é o rápido ataque que mata o inimigo, não aninhar-se com medo atrás de um escudo.
Mas nem Smallwood nem Wythers tinham o comando. Quem o tinha era Lorde Mormont, e Mormont estava à espera de seus outros batedores, à espera de Jarmen Buckwell e dos homens que tinham escalado a Escada do Gigante, e de Qhorin Meia-Mão e Jon Snow, que tinham ido bater o Passo dos Guinchos. Mas a volta de Buckwell e do Meia-Mão estava atrasada.
– Aqui não há urso nenhum – decidiu abruptamente. – Não passa de uma velha pegada. De volta ao Punho. – Os cães quase o derrubaram no chão, tão ansiosos por retornar como ele. Talvez pensassem que iam ser alimentados. Chett não conseguiu evitar uma gargalhada. Já não os alimentava havia três dias, para deixá-los ferozes e famintos. Naquela noite, antes de desaparecer na escuridão, iria libertá-los no meio das fileiras de cavalos, depois de o Doce Donnel Hill e o Karl Pé-Torto cortarem as cordas que os prendiam.
Lark quisera reunir o dobro desse número, mas o que se podia esperar de um homem burro das Irmãs com a boca fedendo a peixe? Bastava murmurar uma palavra no ouvido errado para, antes de se dar conta, acabar sem a cabeça. Não, catorze era um bom número, homens suficientes para fazer o que tinha de ser feito, mas não tantos que não fossem capazes de manter segredo. Chett havia recrutado pessoalmente a maioria. Paul Pequeno era um dos seus; o homem mais forte da Muralha, mesmo que tivesse raciocínio mais lento do que o de um caracol morto. Certa vez, quebrou as costas de um selvagem com um abraço. Também tinham o Adaga, assim chamado devido à sua arma preferida, e o pequeno homem grisalho que os irmãos chamavam de Pé-Leve, que estuprara uma centena de mulheres na juventude e agora gostava de se gabar de que nenhuma delas o viu ou ouviu até que enfiasse o pau nelas.
O plano era de Chett. Era o mais inteligente; além de ter sido intendente do velho Meistre Aemon durante quatro bons anos até aquele bastardo do Jon Snow tramar para que seu trabalho fosse entregue ao porco gordo do amigo dele. Quando matasse Sam Tarly naquela noite, planejava murmurar ao seu ouvido: “Cumprimentos ao Lorde Snow”, antes de abrir a goela do Sor Porquinho e deixar que o sangue saísse borbulhando de todas aquelas camadas de sebo. Chett conhecia os corvos, portanto não teria aí nenhum problema, não mais do que teria com Tarly. Um toque de sua faca e aquele covarde mijaria nas calças e desataria a choramingar pela vida.