– Agora tenho de deixá-lo – disse. – Há um barco à espera, para levá-lo a uma galé. Depois vai atravessar o mar. É filho de Robert, portanto sei que será corajoso, aconteça o que acontecer.
– Serei. Só que... – O rapaz hesitou.
– Pense nisso como uma aventura, senhor. – Davos tentou soar forte e alegre. – É o início da grande aventura de sua vida. Que o Guerreiro o proteja.
– E que o Pai o julgue com justiça, Lorde Davos.
O garoto saiu com o primo, Sor Andrew, pela poterna. Os outros seguiram-nos, todos menos o Bastardo de Nocticantiga.
– E estes dois? – perguntou Sor Rolland referindo-se aos guardas, depois de fechar e trancar o portão.
– Meta-os num porão – disse Davos. – Pode soltá-los depois de Edric estar longe e a salvo.
O Bastardo fez um aceno brusco. Não houve mais palavras a dizer; a parte fácil estava feita. Davos calçou a luva desejando que não tivesse perdido a sua sorte. Fora um homem melhor e mais corajoso com aquele saco de ossos pendurado no pescoço. Passou os dedos encurtados pelos cabelos castanhos que iam rareando e perguntou a si mesmo se precisaria cortá-los. Tinha de ter um aspecto aceitável quando se apresentasse ao rei.
Pedra do Dragão nunca parecera tão escura e temível. Caminhou lentamente, com os passos a ecoar em paredes negras e dragões.
Os degraus pareceram mais longos e íngremes do que antes, ou talvez fosse apenas o caso de estar cansado.
A Sala da Mesa Pintada estava escura e vazia quando Davos entrou; o rei ainda devia estar na fogueira noturna, com Melisandre e os homens da rainha. Ajoelhou e acendeu a lareira, para afastar o frio do aposento redondo e expulsar as sombras para os seus cantos. Então dirigiu-se às janelas, uma de cada vez, abrindo as pesadas cortinas de veludo e destrancando as venezianas de madeira. O vento entrou, carregado com o cheiro do sal e do mar, e puxou seu manto simples e marrom.
Na janela norte, encostou-se ao peitoril para inspirar um pouco do ar frio da noite, esperando vislumbrar o
Mas quando baixou o olhar do céu para as ameias do castelo, deixou de ter tanta certeza. As asas dos dragões de pedra criavam sombras negras à luz proveniente da fogueira noturna. Tentou dizer a si mesmo que não passavam de esculturas, frias e sem vida.