– Não – admitiu Gendry. – Meistre Mott dizia que Thoros até conseguia beber mais do que o Rei Robert. Eram farinha do mesmo saco, disse-me ele, ambos glutões e bêbados.
– Não devia chamar o rei de bêbado. – O Rei Robert talvez costumasse beber muito, mas fora amigo do pai de Arya.
– Estava falando de Thoros. – Gendry estendeu as tenazes como que para agarrar o rosto dela, mas Arya afastou-as com uma pancada. – Ele gostava de banquetes e torneios, por isso é que o Rei Robert era tão amigo dele. E era um homem de coragem. Quando as muralhas de Pyke ruíram, foi o primeiro a atravessar a brecha. Lutou com uma de suas espadas flamejantes, incendiando homens de ferro a cada golpe.
– Gostaria de ter uma espada flamejante. – Arya conseguia se lembrar de montes de gente em que gostaria de atear fogo.
– É só um truque, já lhe disse. O fogovivo estraga o aço. Meu mestre vendia a Thoros uma espada nova depois de cada torneio. E tinham sempre uma discussão sobre o preço. – Gendry voltou a pendurar as tenazes e pegou o martelo pesado. – Mestre Mott dizia que era hora de eu fazer a minha primeira espada longa. Deu-me um belo pedaço de aço, e eu sabia exatamente que forma queria dar à lâmina. Mas o Yoren veio e levou-me para a Patrulha da Noite.
– Ainda pode fazer espadas, se quiser – disse Arya. – Pode fazê-las para o meu irmão Robb, quando chegarmos a Correrrio.
– Correrrio. – Gendry apoiou o martelo e olhou-a. – Você agora parece diferente. Como uma menina de verdade.
– Pareço um carvalho, com todas estas bolotas estúpidas.
– Mas bonito. Um carvalho bonito. – Aproximou-se um passo e
– Você, não. Você
– Aposto que
Tom estava cantando quando voltaram ao salão.
Meu colchão de penas é grande e suave,
e é lá que a vou deitar
Vou vestir-la toda de seda amarela,
e na testa uma coroa pousar.
Pois será o meu amor, senhora,
e eu seu senhor serei.
Sempre a manterei quente e segura,
e com espada a defenderei.
Harwin deu um olhar de relance para eles e estourou em gargalhadas, e Anguy deu um de seus estúpidos sorrisos sardentos e disse:
– Temos
Limo Manto Limão deu um cascudo na cabeça de Gendry.
– Se quer lutar, lute comigo! Ela é uma menina, e tem metade de sua idade! Mantenha essas mãos longe dela, ouviu?
– Fui eu que comecei – disse Arya. – Gendry estava só conversando.
– Deixe o moço, Limo – disse Harwin. – Foi mesmo ela quem começou, não duvido. Era a mesma coisa em Winterfell.
Tom piscou o olho para ela e cantou:
E como sorriu e como ela riu,
a donzela do pinheiro.
Fugiu num rodopio e disse-lhe,
não quero o seu braseiro.
Usarei um vestido de folhas douradas,
a trança com ervas atada,
Mas você pode ser meu amor da floresta,
e eu a sua namorada.
– Não tenho trajes de folhas – disse a Senhora Smallwood, com um pequeno sorriso simpático –, mas Carellen deixou aqui mais alguns vestidos que podem servir. Venha, filha, vamos lá em cima ver o que encontramos.
Foi ainda pior do que antes; a Senhora Smallwood insistiu que Arya tomasse
– Eram coisas de meu filho – disse ela. – Morreu com sete anos.
– Lamento, senhora. – Arya subitamente sentiu-se envergonhada e com pena dela. – Também lamento ter rasgado o vestido das bolotas. Era bonito.
– Sim, filha. E você também é. Seja corajosa.
DAENERYS
No centro da Praça do Orgulho havia uma fonte de tijolo vermelho cujas águas cheiravam a enxofre, e no meio da fonte erguia-se uma monstruosa harpia feita de bronze martelado. Empinava-se até seis metros de altura. Tinha rosto de mulher, com cabelos dourados, olhos de marfim e dentes pontiagudos também de marfim. A água jorrava amarela de seus seios pesados. Mas, no lugar dos braços, possuía as asas de um morcego ou dragão; suas pernas eram as de uma águia, e atrás tinha a cauda enrolada e venenosa de um escorpião.