– Você não pode fazer isso! – numa voz tão carregada de horror como de vinho. – Estou falando, esses Tyrell são apenas Lannister com flores. Suplico-lhe, esqueça essa loucura, dê um beijo em seu Florian, e prometa que seguirá o caminho que planejamos. Na noite do casamento de Joffrey, não falta muito tempo, use a rede de prata para o cabelo e faça o que eu lhe disser, e depois fugiremos. – E tentou lhe dar um beijo no rosto.
Sansa desvencilhara-se de sua mão e afastara-se dele.
– Não farei isso. Não posso. Alguma coisa daria errado. Quando eu quis fugir, você não me levou, e agora não preciso.
Dontos fitara-a estupidamente.
– Mas os preparativos estão feitos, querida. O navio para levá-la para casa, o barco para levá-la para o navio, o seu Florian fez tudo para a sua doce Jonquil.
– Lamento todo o incômodo que lhe causei – ela disse –, mas agora não preciso de barcos e navios.
– Mas é tudo para a sua segurança.
– Estarei em segurança em Jardim de Cima. Willas vai me manter em segurança.
– Mas ele não a conhece – insistiu Dontos – e não a amará. Jonquil, Jonquil, abra seus belos olhos, esses Tyrell não se interessam por você. É a sua pretensão que querem desposar.
– A minha pretensão? – por um momento Sansa ficou confusa.
– Querida – ele disse –, é herdeira de Winterfell. – Voltou a agarrá-la, suplicando-lhe que não fizesse aquilo, e Sansa se libertou, deixado-o cambaleando sob a árvore-coração. Não voltou a visitar o bosque sagrado desde então.
Mas também não esqueceu suas palavras. Herdeira de Winterfell, pensava na cama, à noite. É a sua pretensão que querem desposar. Sansa tinha crescido com três irmãos. Nunca pensara em ter alguma pretensão, mas com Bran e Rickon mortos... Não importa, ainda há Robb, ele é agora um homem-feito, e em breve se casará e terá um filho. Seja como for, Willas Tyrrell terá Jardim de Cima, o que ele iria querer de Winterfell?
Às vezes sussurrava o nome dele para a almofada, só para ouvir o som.
– Willas, Willas, Willas. – Supunha que Willas era um nome tão bom quanto Loras. Até soavam um pouco parecidos. Que importava a sua perna? Willas seria Senhor de Jardim de Cima, e ela seria a sua senhora.
Imaginava os dois sentados juntos num jardim, com cachorros no colo, ou ouvindo um cantor dedilhar um alaúde enquanto flutuavam Vago abaixo numa barcaça de prazer. Se lhe der filhos, ele pode chegar a me amar. Ela ia chamá-los de Eddard, Brandon e Rickon, e educá-los para serem tão valentes quanto Sor Loras. E também para odiarem os Lannister. Nos sonhos de Sansa, seus filhos eram tal qual os irmãos que tinha perdido. Às vezes, havia até uma menina parecida com Arya.
Mas nunca conseguia manter durante muito tempo uma imagem de Willas na cabeça; a sua imaginação transformava-o sempre em Sor Loras, jovem, gracioso e belo. Não pode pensar nele assim, dizia a si mesma. Senão, Willas pode ver o desapontamento em seus olhos quando se encontrarem, e como poderá então casar com você, sabendo que é o irmão que você ama? Recordava constantemente a si mesma que Willas tinha o dobro de sua idade, que era coxo, e talvez até gordo e de rosto vermelho como o pai. Mas, garboso ou não, poderia ser o único campeão que algum dia teria.
Uma vez sonhou que ainda era ela, e não Margaery, quem se casaria com Joff, e que na noite de núpcias ele se transformava no carrasco Ilyn Payne. Acordou tremendo. Não queria que Margaery sofresse como ela tinha sofrido, mas a ideia de que os Tyrell pudessem recusar prosseguir com o casamento aterrorizava-a. Eu preveni, avisei, contei a verdade sobre ele. Talvez Margaery não acreditasse nela. Joff sempre desempenhava o papel de perfeito cavaleiro com a jovem Tyrell, como fizera com Sansa. Ela verá a sua verdadeira natureza bem depressa, depois do casamento, se não vir antes. Sansa decidiu que acenderia uma vela à Mãe no Céu da próxima vez que visitasse o septo e lhe pediria para proteger Margaery da crueldade de Joffrey. E talvez também uma vela ao Guerreiro, para Loras.