Antes de começar minha conferência em Barcelona, repeti a manhã inteira: o “meu” processo está dando resultado, e isso é tudo que interessa. Li alguns manuais, descobrindo que, para apresentar uma idéia nova com o máximo de impacto possível, é preciso também criar uma estrutura de palestra que provoque a audiência, de modo que a primeira coisa que disse para os executivos reunidos em um hotel de luxo foi uma frase de São Paulo: “Deus escondeu as coisas mais importantes dos sábios, porque eles não conseguem entender o que é simples, e resolveu revelá-las aos simples de coração” (
Quando disse isso, o auditório inteiro, que passara dois dias analisando gráficos e estatísticas, ficou em silêncio.
Achei que tinha perdido meu emprego, mas resolvi continuar.
Primeiro, porque havia pesquisado o tema, estava seguro do que dizia, e merecia o crédito. Segundo, porque, embora em 205
determinados momentos eu fosse obrigado a omitir a influência gigantesca de Athena em todo o processo, eu tampouco estava mentindo:
— Descobri que, para motivar hoje em dia os
funcionários, é preciso mais do que um bom treinamento em nossos centros extremamente qualificados. Todos nós temos nossa parte desconhecida, que, quando vem à tona, é capaz de produzir milagres.
“Todos nós trabalhamos por alguma razão: alimentar os filhos, ganhar dinheiro para sustentar-se, justificar sua vida, conseguir uma parcela de poder. Mas existem etapas aborrecidas durante este percurso, e o segredo consiste em transformar estas etapas em um encontro consigo mesmo, ou com algo mais elevado.
Por exemplo: nem sempre a busca da beleza está associada a alguma coisa prática, e mesmo assim a procuramos como se fosse a coisa mais importante do mundo. Os pássaros aprendem a cantar, o que não significa que isso irá ajudá-los a conseguir comida, evitar os predadores, ou afastar os parasitas. Os pássaros cantam, segundo Darwin, porque só desta maneira conseguem atrair o parceiro e perpetuar a espécie.”
Fui interrompido por um executivo de Genève, que insistia em uma apresentação mais objetiva. Mas o Diretor-Geral me encorajou a seguir adiante, o que me deixou entusiasmado.
— Ainda segundo Darwin, que escreveu um livro capaz de mudar o curso da humanidade (
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Neste momento, fui obrigado a citar que havia desenvolvido esta idéia graças à espontânea colaboração de uma de minhas funcionárias, Sherine Khalil.
— Sherine, que gosta de ser chamada de Athena, trouxe para o seu lugar de trabalho um novo tipo de comportamento, ou seja, a paixão. Isso mesmo, a paixão, algo que nunca consideramos quando estamos tratando de empréstimos ou planilhas de gastos.
Meus funcionários passaram a usar a música como um estímulo para atender melhor seus clientes.
Outro executivo interrompeu, dizendo que isso era uma idéia antiga: os supermercados faziam a mesma coisa, usando melodias que induziam o cliente a comprar.
— Eu não estou dizendo que colocamos música no ambiente de trabalho. As pessoas passaram a viver de maneira diferente, porque Sherine, ou Athena se preferirem, ensinou-os a dançar