Como responder a uma questão dessas? De um lado, estaria lhe dando mais poder do que seria aconselhável, de outro lado, se não fosse direto, jamais teria as respostas que precisava.
— Sim, notei uma grande mudança. E estou pensando em promovê-la.
— Preciso viajar. Quero sair um pouco de Londres, conhecer novos horizontes.
Viajar? Agora que tudo estava dando certo em meu ambiente de trabalho, ela queria ir embora? Mas, pensando melhor, não era exatamente esta saída que eu estava precisando e desejando?
— Posso ajudar o banco se me der mais
responsabilidades — continuou.
Entendido — e ela estava me dando uma excelente oportunidade. Como é que não havia pensado antes nisso? “Viajar”
significava afastá-la, retomar minha liderança, sem ter que arcar com os custos de uma demissão ou de uma rebelião. Mas precisava refletir sobre o assunto, porque, antes de ajudar o banco, ela precisava me ajudar. Agora que meus chefes haviam notado o crescimento de nossa produtividade, eu sei que precisaria mantê-
la, sob o risco de perder o prestígio e ficar em pior posição que antes. Às vezes entendo por que grande parte de meus companheiros não procuram fazer muita coisa para melhorar: se não conseguem, são chamados de incompetentes. Se conseguem, são obrigados a crescer sempre, e terminam seus dias tendo um enfarte do miocárdio.
Dei com cuidado o próximo passo: não é aconselhável assustar a pessoa antes que ela revele o segredo que precisamos saber; melhor fingir que concordamos com o que está pedindo.
203
— Tentarei fazer chegar seu pedido aos meus
superiores. Por sinal, vou me encontrar com eles em Barcelona, e justamente por causa disso é que resolvi chamá-la. Estaria certo se dissesse que o nosso desempenho melhorou desde que, digamos, as pessoas passaram a ter um melhor relacionamento com você?
— Digamos... um melhor relacionamento com elas mesmas.
— Sim. Mas provocado por você – ou estou enganado?
— O senhor sabe que não está enganado.
— Andou lendo algum livro de gerenciamento que não conheço?
— Não leio este tipo de coisa. Mas gostaria que me prometesse que vai realmente considerar o que pedi.
Pensei em seu namorado da Scotland Yard; se prometesse e não cumprisse, estaria sujeito a uma represália? Será que ele havia lhe ensinado alguma tecnologia de ponta, que consegue obter resultados impossíveis?
— Posso contar absolutamente tudo, mesmo que o senhor não cumpra sua promessa. Mas não sei se terá algum resultado, se não fizer o que estou lhe ensinando.
— A tal “técnica de rejuvenescimento”?
— Isso mesmo.
— Será que não basta conhecer apenas em teoria?
— Talvez. Foi através de algumas folhas de papel que ela chegou até quem me ensinou.
Fiquei contente que não estivesse me forçando a tomar decisões que estão além do meu alcance e dos meus princípios.
Mas, no fundo, devo confessar que também estava com um interesse pessoal nesta história, já que também sonhava com uma reciclagem de meu potencial. Prometi que faria o possível, e Athena começou a narrar uma longa e esotérica dança em busca de um tal Vértice (ou Eixo, agora não me lembro direito). À medida que íamos falando, eu procurava colocar de maneira objetiva suas reflexões alucinadas. Uma hora apenas não foi suficiente, de modo que pedi que voltasse no dia seguinte, e juntos preparamos o relatório 204
para ser apresentado à diretoria do banco. Em determinado momento de nossa conversa, ela me disse, sorrindo:
— Não tenha receio de escrever algo muito próximo ao que estamos conversando. Penso que mesmo a diretoria de um banco é feita de gente como nós, de carne e osso, e deve estar interessadíssima em processos não convencionais.
Athena estava completamente enganada: na Inglaterra, as tradições falam sempre mais alto que as inovações. Mas o que custava arriscar um pouco, desde que não colocasse em perigo o meu trabalho? Já que a coisa me parecia completamente absurda, era preciso resumi-la e colocá-la de forma que todos pudessem entender. Bastava isso.