– O senhor faz da melhor maneira possível o que acha ser seu dever. Nós cuidamos do nosso.
– De que me acusam? – perguntou McMurdo.
– De envolvimento no espancamento do editor do Herald, sr. Stanger. Não é culpa sua que não seja uma acusação de assassinato.
– Bem, se é só isso que têm contra ele – exclamou McGinty com uma gargalhada –, vocês podem evitar muitos problemas deixando-o agora mesmo. Esse homem estava comigo lá no meu saloon jogando pôquer até meia-noite, e posso lhe indicar muitas testemunhas.
– Isso é problema seu e o senhor pode dizer tudo isso amanhã no tribunal. Enquanto isso, vamos, McMurdo, e fique quietinho se não quer ter a cabeça varada por chumbo. E o senhor se afaste, sr. McGinty, pois aviso que não tolero resistência quando estou em serviço.
O comportamento do capitão era tão determinado que tanto McMurdo quanto seu chefe foram obrigados a aceitar a situação. McGinty conseguiu sussurrar algumas palavras para o prisioneiro.
– E quanto à... – ele fez um gesto com a mão dando a entender que se referia à máquina de dinheiro falso.
– Tudo bem – sussurrou McMurdo, que providenciara um bom esconderijo sob o assoalho.
– Vou me despedir de você – disse o chefe, apertando a mão do outro. – Vou procurar Reilly, o advogado, e cuidar de toda a defesa. Dou-lhe a minha palavra que eles não vão segurar você lá.
– Eu não confiaria nisso. Tomem conta do prisioneiro, vocês dois, e atirem se ele tentar alguma coisa. Vou revistar a casa antes de sair.
Marvin realmente revistou a casa, mas aparentemente não descobriu nenhuma pista da máquina de falsificar dinheiro. Quando saiu da casa, ele e seus homens escoltaram McMurdo até o quartel-general. Anoitecera e caía um forte temporal, de modo que as ruas estavam quase desertas, mas mesmo assim alguns vadios seguiram o grupo e, protegidos pela escuridão, gritavam xingamentos para o prisioneiro.
– Executem o maldito Scowrer! – eles gritavam. – Executem-no! – Todos riam e zombavam enquanto ele era levado para as dependências da polícia. Depois de uma inspeção rápida e formal feita pelo oficial de plantão, foi levado para a cela comum. Ali encontrou Baldwin e mais três criminosos que haviam participado do espancamento na noite anterior, todos detidos naquela tarde e esperando o julgamento, que seria no dia seguinte.
Mas mesmo no interior dessa fortaleza policial, o braço longo dos Homens Livres era capaz de penetrar. Bem tarde da noite chegou um carcereiro com as esteiras enroladas que serviriam de cama para eles. Do meio das esteiras ele tirou duas garrafas de uísque, alguns copos e um baralho. Passaram uma noite divertida sem se preocupar com o julgamento da manhã.
E nem tinham motivo para isso, como ficaria provado pelo resultado do julgamento. O juiz não poderia, com toda certeza, dar uma sentença que pudesse remeter o caso a uma instância superior. De um lado, os linotipistas e jornalistas foram forçados a admitir que a luz não era forte o suficiente para que vissem tudo com clareza, que estavam todos muito perturbados e que ficava muito difícil para eles afirmar quem eram os culpados, embora achassem que os acusados estavam entre eles. Interrogados pelo esperto advogado contratado por McGinty, ficaram ainda mais confusos. A vítima já dissera que fora tomada de surpresa, devido à rapidez do ataque, e que não poderia afirmar nada a não ser que o primeiro homem que o atacara usava bigode. Acrescentou que sabia que eles eram Scowrers, já que ninguém mais na comunidade tinha motivos para ter inimizade por ele, dizendo ainda que há muito tempo vinha sendo ameaçado por causa dos editoriais que escrevia. Por outro lado, ficou claramente demonstrado pelo depoimento unânime e sem hesitação de seis cidadãos, incluindo-se entre eles um alto funcionário municipal, o conselheiro McGinty, que os homens estiveram jogando no sindicato até uma hora depois de ocorrida a agressão. Desnecessário dizer que o juiz praticamente se desculpou pelo incômodo a que foram submetidos e criticou implicitamente o capitão Marvin e a polícia pelo excesso de zelo.
O veredicto foi comemorado com aplausos ruidosos por uma platéia na qual McMurdo viu muitos rostos conhecidos. Mas algumas pessoas ficaram quietas, com os lábios apertados e os olhos demonstrando preocupação, enquanto os homens saíam do banco dos réus. Uma dessas pessoas, um homem baixo, de barba preta e jeito resoluto, exprimiu seus pensamentos e os de seus companheiros enquanto os ex-prisioneiros passavam por ele.
– Assassinos desgraçados! – disse. – Vamos prendê-los um dia.
A Pior Hora