– Por quê? – forçou-se a perguntar, embora soubesse que se arrependeria disso.
– E ainda pergunta? Você, que matou sua mãe para vir ao mundo? É uma criaturinha malfeita, tortuosa, desobediente, desprezível, uma criaturinha cheia de inveja, luxúria e baixa astúcia. As leis dos homens dão-lhe o direito de usar o meu nome e ostentar as minhas cores, visto que não posso provar que não é meu filho. A fim de me ensinar humildade, os deuses condenaram-me a vê-lo bambolear por aí, usando esse orgulhoso leão que era o símbolo de meu pai e do pai dele antes disso. Mas nem os deuses nem os homens me obrigarão algum dia a deixar que transforme Rochedo Casterly em seu bordel.
– Meu
– É esse o nome dela? Confesso que não sou capaz de me lembrar do nome de todas as suas putas. Qual foi aquela com que casou quando garoto?
– Tysha. – Cuspiu a resposta, em desafio.
– E aquela seguidora de acampamentos no Ramo Verde?
– Que importa? – perguntou, sem querer nem mesmo proferir o nome de Shae em sua presença.
– Não importa. Não mais do que me importa que elas vivam ou morram.
– Foi
– Sua irmã falou-me de suas ameaças contra meu neto. – A voz de Lorde Tywin era mais fria do que gelo. – Ela mentiu?
Tyrion não o negaria.
– Fiz ameaças, sim. Para manter Alayaya a salvo. Para que os Kettleblack não a destratassem.
– Para salvar a virtude de uma puta ameaçou sua própria casa, sua própria família? É assim que as coisas são?
– Foi você quem me ensinou que uma boa ameaça é mais eficaz do que um golpe. Não que Joffrey não tenha me tentado bastante algumas centenas de vezes. Se está assim tão ansioso por chicotear pessoas, comece por ele. Mas Tommen... por que haveria de fazer mal a Tommen? Ele é bom rapaz e de meu próprio sangue.
– Tal como sua mãe era. – Lorde Tywin ergueu-se abruptamente da cadeira para olhar o filho anão de cima. – Volte para sua cama, Tyrion, e não me fale mais de
DAVOS
Viu a vela crescer durante muito tempo, tentando decidir se preferia viver ou morrer.
Sabia que morrer seria mais fácil. Tudo que tinha a fazer era rastejar para dentro de sua gruta e deixar que o navio passasse, e a morte iria encontrá-lo. Fazia vários dias que a febre o queimava por dentro, transformando suas tripas em água marrom e fazendo-o tremer num sono inquieto. Cada manhã o encontrava mais fraco.
Se a febre não o matasse, a sede certamente o faria. Ali, não tinha água doce além da chuva ocasional que se acumulava em buracos na rocha. Apenas três dias antes (ou teriam sido quatro? Naquele rochedo era difícil distinguir os dias), as poças estavam secas como osso velho, e ver a baía ondulando em verde e cinza por toda a volta quase tinha sido mais do que podia suportar. Sabia que, uma vez que começasse a beber água do mar, o fim chegaria rapidamente, mesmo assim quase tomou o primeiro gole, tão seca estava sua garganta. Uma súbita chuvarada o tinha salvado. Enfraquecera tanto a essa altura que tudo que podia fazer era deitar-se na chuva de olhos fechados e boca aberta, e deixar a água cair sobre seus lábios rachados e sua língua inchada. Mas depois sentiu-se um pouco mais forte, e as poças, falhas e fendas do rochedo tinham voltado a se encher de vida.
Mas isso fora três dias antes (ou talvez quatro), e a maior parte da água já tinha desaparecido novamente. Uma parte evaporara, a outra ele sugou. Na manhã seguinte, estaria de novo saboreando a lama, e lambendo as pedras úmidas e frias do fundo das depressões.
E se não fosse a sede ou a febre, a fome iria matá-lo. Sua ilha nada mais era do que uma torre estéril que se projetava da imensidão da Baía da Água Negra. Quando a maré estava baixa, às vezes conseguia encontrar minúsculos caranguejos ao longo da praia pedregosa onde tinha sido depositado pelo mar depois da batalha. Eles mordiam dolorosamente seus dedos antes que ele pudesse esmagá-los nas rochas para sugar a carne de suas garras e as entranhas de suas conchas.