Um riacho barrou seu caminho. Entrou nele, atravessando a água repleta de folhas ensopadas e castanhas. Algumas vieram agarradas às patas do cavalo quando subiram do outro lado. Ali, a vegetação rasteira era mais densa, com o chão tão cheio de raízes e pedras que teve de desacelerar, mas manteve o ritmo mais elevado que ousou. Surgiu outra colina à sua frente, mais íngreme. Para cima, e de novo para baixo.
Ambos os cavalos estavam espumando e perdendo as forças quando ele chegou ao lado, estendeu a mão e agarrou o freio dela. A própria Arya estava ofegante. Sabia que a fuga tinha terminado.
– Monta como um nortenho, senhora – disse Harwin quando a obrigou a parar. – Sua tia também era assim. A Senhora Lyanna. Mas lembre-se de que meu pai era mestre dos cavalos.
O olhar que Arya lhe lançou estava cheio de mágoa.
– Achava que era um homem de meu pai.
– Lorde Eddard está morto, senhora. Agora pertenço ao senhor do relâmpago e aos meus irmãos.
– Que irmãos? – o Velho Hullen não tinha gerado mais nenhum filho, que Arya se lembrasse.
– Anguy, Limo, Tom das Sete, Jack e Barba-Verde, todos eles. Não queremos mal ao seu irmão, senhora... mas não é por ele que lutamos. Robb tem um exército próprio, e muitos grandes senhores que dobram o joelho para ele. O povo só tem a nós. – Deu-lhe um olhar perscrutador. – É capaz de compreender o que estou dizendo?
– Sim. – Que ele não era um homem de Robb compreendia bastante bem. E também que era sua cativa.
– Voltará agora em paz? – perguntou-lhe Harwin – Ou terei de amarrá-la e colocá-la atravessada no cavalo?
– Volto em paz – disse ela num tom amuado.
SAMWELL
Soluçando, Sam deu mais um passo.
Quando olhou para baixo, viu-os tropeçando através da neve; coisas sem forma e desajeitadas. Parecia lembrar-se de que as botas tinham sido pretas, mas a neve formara uma crosta em volta delas, e agora eram disformes bolas brancas. Como dois pés deformados feitos de gelo.
Não queria parar, a nevasca. Os montes de neve acumulada já lhe passavam dos joelhos, e uma crosta cobria a parte de baixo de suas pernas como um par de grevas brancas. Seus passos eram arrastados, deslizantes. A mochila pesada que levava fazia com que ele parecesse um monstruoso corcunda. E estava cansado, tão cansado.