Читаем A Bruxa de PortoBello полностью

— Você já aprendeu o que precisava — disse. — Sua caligrafia está cada vez mais pessoal, mais espontânea. Já não é apenas uma repetição da beleza, mas um gesto de criação pessoal.

Você entendeu o que os grandes pintores entendem: para esquecer as regras, é preciso conhecê-las e respeitá-las.

“Já não precisa dos instrumentos que a fizeram aprender. Já não precisa do papel, da tinta, da pena, porque o 220

caminho é mais importante que aquilo que a levou a caminhar.

Certa vez você me contou que a pessoa que a ensinou a dançar ficava imaginando músicas em sua cabeça — e mesmo assim, era capaz de repetir os ritmos necessários e precisos.“

— Isso mesmo.

— Se as palavras estivessem todas unidas, elas não fariam sentido, ou complicariam muito o seu entendimento: é necessário que existam espaços.

Ela concordou com a cabeça.

— E apesar de você dominar as palavras, ainda não domina os espaços em branco. Sua mão, quando está concentrada, é perfeita. Quando salta de uma palavra para a outra, ela se perde.

— Como o senhor sabe isso?

— Tenho razão?

— Tem toda razão. Em algumas frações de segundo, antes de concentrar-me na próxima palavra, eu me perco. Coisas que eu não quero pensar insistem em dominar-me.

— E você sabe exatamente o que é.

Athena sabia, mas não disse nada, até voltarmos à tenda, e poder segurar o filho adormecido no colo. Seus olhos pareciam cheios de lágrimas, embora fizesse o possível para controlar-se.

— O emir disse que você iria tirar férias.

Ela abriu a porta do carro, colocou a chave na ignição, e deu a partida. Por alguns momentos, apenas o ruído do motor quebrava o silêncio do deserto.

— Sei o que o senhor está falando — disse ela afinal.

— Quando escrevo, quando danço, sou guiada pela Mão que tudo criou. Quando olho Viorel dormindo, sei que ele sabe que é fruto de meu amor pelo pai dele, embora já não o veja há mais de um ano. Mas eu...

Ficou em silêncio de novo. O silêncio que era o espaço em branco entre as palavras.

— ... mas eu não conheço a mão que me embalou pela primeira vez. A mão que me escreveu no livro deste mundo.

221

Apenas balancei a cabeça em sinal afirmativo.

— O senhor acha isso importante?

— Nem sempre. Mas no seu caso, enquanto não tocar esta mão, não irá melhorar... digamos... sua caligrafia.

— Não creio que seja necessário descobrir quem jamais se deu ao trabalho de me amar.

Fechou a porta, sorriu, e arrancou com o carro. Apesar de suas palavras, eu sabia qual seria seu próximo passo.

Samira R. Khalil, mãe de Athena

Foi como se todas as suas conquistas profissionais, sua capacidade de ganhar dinheiro, sua alegria com o novo amor, seu contentamento quando brincava com meu neto, tudo isso tivesse sido jogado para um segundo plano. Eu fiquei simplesmente aterrorizada quando Sherine me comunicou a decisão de ir em busca da sua mãe de sangue.

No início, é claro, consolava-me a idéia de que já não existia mais o centro de adoção, as fichas tivessem sido perdidas, os funcionários se mostrassem implacáveis, o governo tinha acabado de cair e era impossível viajar, ou o ventre que a trouxe a esta terra já não estivesse mais neste mundo. Mas foi um consolo momentâneo: minha filha era capaz de tudo, e conseguia superar situações que pareciam impossíveis.

Até aquele momento, o assunto era um tabu na família.

Sherine sabia que fora adotada, já que o psiquiatra em Beirute me aconselhara a contar logo que tivesse suficiente idade para compreender. Mas nunca demonstrou curiosidade em saber de que região viera — seu lar tinha sido Beirute, quando ainda era um lar para todos nós.

Como o filho adotado de uma amiga minha terminou se suicidando quando ganhou uma irmã biológica — e ele tinha apenas 16 anos! —, nós evitamos ampliar nossa família, fizemos todos os sacrifícios necessários para que entendesse que era a única razão de minhas alegrias e minhas tristezas, dos meus amores e das 222

minhas esperanças. Mesmo assim, parecia que nada disso contava; meu Deus, como os filhos podem ser tão ingratos!

Conhecendo minha filha, sabia que não adiantava argumentar nada disso com ela. Eu e meu marido passamos uma semana sem dormir, e todas as manhãs, todas as tardes, éramos bombardeados com a mesma pergunta: em que cidade da Romênia eu nasci? Para agravar a situação, Viorel chorava, porque parecia estar entendendo tudo que acontecia.

Resolvi consultar de novo um psiquiatra. Perguntei por que uma moça que tinha tudo na vida estava sempre tão insatisfeita.

— Todos nós queremos saber de onde viemos — disse ele.

— Essa é a questão fundamental do ser humano no plano filosófico.

No caso de sua filha, acho perfeitamente justo que procure saber suas origens. A senhora não teria esta curiosidade?

Não, eu não teria. Muito pelo contrário, acharia um perigo ir em busca de alguém que me recusou e me rejeitou, quando ainda não tinha forças para sobreviver.

Mas o psiquiatra insistiu:

Перейти на страницу:

Похожие книги

Как стать леди
Как стать леди

Впервые на русском – одна из главных книг классика британской литературы Фрэнсис Бернетт, написавшей признанный шедевр «Таинственный сад», экранизированный восемь раз. Главное богатство Эмили Фокс-Ситон, героини «Как стать леди», – ее золотой характер. Ей слегка за тридцать, она из знатной семьи, хорошо образована, но очень бедна. Девушка живет в Лондоне конца XIX века одна, без всякой поддержки, скромно, но с достоинством. Она умело справляется с обстоятельствами и получает больше, чем могла мечтать. Полный английского изящества и очарования роман впервые увидел свет в 1901 году и был разбит на две части: «Появление маркизы» и «Манеры леди Уолдерхерст». В этой книге, продолжающей традиции «Джейн Эйр» и «Мисс Петтигрю», с особой силой проявился талант Бернетт писать оптимистичные и проникновенные истории.

Фрэнсис Ходжсон Бернетт , Фрэнсис Элиза Ходжсон Бёрнетт

Классическая проза ХX века / Проза / Прочее / Зарубежная классика